VÍDEO: ginecologistas do Hospital Heliópolis, na Zona Sul, são flagradas em compras e pilates durante horário de trabalho
04/12/2025
(Foto: Reprodução) Médicas do hospital Heliópolis não cumprem jornada de trabalho
Três médicas ginecologistas que trabalham no Ambulatório de Especialidades do Complexo Hospitalar Heliópolis, mais conhecido como Hospital Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo, foram flagradas pelo SP2 fazendo compras e aulas de pilates nos horários em que deveriam estar atendendo pacientes.
A TV Globo constatou que uma escala fixada na recepção do ambulatório mostra que as médicas Márcia Kamilos, Silmara Fialho e Mara Gomes fazem parte do quadro de profissionais na área de ginecologia. Porém, pacientes reclamam da dificuldade de agendar consultas há meses.
É o caso da cozinheira Rita de Cássia, que diz que não consegue agendar atendimento com ginecologista há mais de seis meses. Em todas as tentativas, a resposta é sempre a mesma: “Ah, moça, não está tendo vaga para ginecologista. A gente está sem. A gente está sem médico, na verdade, né?”
Além de Rita, a irmã dela também tenta consulta há meses. “A gente vai marcar e não tem. É difícil. A gente se sente humilhada. Você contribui, trabalha a vida inteira, contribui com seus impostos. Se o SUS existe, agradeça a gente porque é pago os impostos, e quando a gente precisa tudo é negado”, ressaltou.
A TV Globo apurou que a médica Márcia Kamilos não vai ao hospital há um ano. E o motivo do afastamento é um atestado médico de 365 dias, desde dezembro de 2024.
A publicação no Diário Oficial mostra que a médica foi afastada do hospital por “capacidade laborativa prejudicada”, que significa que a saúde de uma pessoa foi afetada a ponto de impedir ou dificultar o desempenho de suas atividades profissionais.
Mas ao ligar para uma clínica particular no bairro dos Jardins foi possível marcar consulta com ela.
Repórter: "Eu gostaria de marcar uma avaliação com a doutora."
Atendente: "Por enquanto, eu só vou ter horário com a doutora dia 17 de dezembro."
Repórter: "E no dia 17 ela tem que horas?"
Atendente: "Eu ainda tenho agenda, 8, 9 e 10."
Márcia Kamilos também participou de congressos. Em maio, como ela mesma contou nas redes sociais, deu aulas na capital. Em setembro, palestrou três dias em Goiânia. E em outubro estava no Instituto Paulo Guimarães, em Brasília.
Já a médica Silmara Fialho tem uma escala de trabalho às segundas-feiras, das 7h às 15h, e às quartas-feiras, das 7h às 14h. A reportagem acompanhou a rotina dela no último mês e verificou que no dia 17 de novembro, uma segunda-feira, ela bateu o ponto às 7h38.
Com um celular, a TV Globo também registrou a médica entre os atendimentos. Às 13h, duas horas oficialmente antes de encerrar o trabalho, Silmara foi embora e não voltou para bater o ponto de saída.
No dia 19, quarta-feira, Silmara chegou com uma hora e meia de atraso. Atendeu pacientes até 12h30 e foi embora.
A equipe de reportagem ainda encontrou Silmara fazendo compras na zona cerealista de São Paulo, no Centro. num momento em que deveria estar cumprindo jornada de trabalho. Ela tinha pelo menos mais uma hora e meia para trabalhar no Hospital Heliópolis.
Já nos dias 24 e 26 de novembro, Silmara Fialho não foi trabalhar. Por telefone, ouvimos: “Essa semana ela não vai atender”.
Três ginecologistas que trabalham no Ambulatório de Especialidades do Complexo Hospitalar Heliópolis, mais conhecido como Hospital Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo, foram flagradas pelo SP2 fazendo compras e aulas de pilates nos horários em que deveriam estar atendendo pacientes.
TV Globo
Já em relação à médica Mara Gomes, sua escala de trabalho indica jornadas de 10 horas às segundas e quartas e de seis horas às sextas. Não é o que ocorreu na quarta, 19 de novembro. A TV Globo verificou que às 12h10 ela voltava para o ambulatório depois de um período de três horas fora do hospital.
Ela saiu, fez aula de pilates, almoçou e retornou. O horário de entrada dela foi às 7h, mas, desse período todo, até que ela fosse para a aula, não atendeu ninguém.
À tarde, a médica atendeu no consultório 5 do ambulatório. Na segunda, 24 de novembro, ela bateu o ponto e saiu para fazer pilates na cidade vizinha, em São Caetano. A ginecologista foi flagrada na aula às 9h, quando deveria estar no hospital. À tarde, ela voltou e atendeu pacientes.
De acordo com o Portal da Transparência do Estado de São Paulo, de janeiro a outubro de 2025, as médicas Márcia Kamilos, Mara Gomes e Silmara Fialho receberam salários que somam mais de R$ 210 mil.
O que dizem as profissionais
A médica Márcia Kamilos disse que a administração do hospital tem total ciência do afastamento dela e da documentação apresentada.
A repórter Fernanda Elnour telefonou cinco vezes para Silmara Fialho e Mara Gomes, mas elas não atenderam. Também foram enviadas mensagens de texto por um aplicativo. A repórter se apresentou como jornalista da TV Globo e deixou telefones e e-mails da redação à disposição, mas as duas não responderam até a última atualização desta reportagem.
O que dizem a secretaria da Saúde e a organização Albert Einstein
Em nota, a secretaria afirmou que determinou à organização social Albert Einstein, atual responsável pela gestão do hospital, apuração imediata e rigorosa dos fatos. Relatou ainda que repudia qualquer conduta incompatível com a ética profissional e que, se confirmadas irregularidades, as profissionais envolvidas podem sofrer sanções administrativas, trabalhistas e legais.
A Organização Einsten Hospital Israelita não comentou a denúncia. Em nota, disse que iniciou a implementação de melhorias nos controles internos, como registro de ponto por biometria facial, para aprimorar a supervisão de seus colaboradores.
Três ginecologistas foram flagradas pelo SP2 fazendo compras e aulas de pilates nos horários em que deveriam estar atendendo pacientes.
TV Globo
SP2 acompanhou por um mês a rotina das médicas, que foram vistas em compras e aulas de pilates no horário de atendimento
TV Globo
Hospital Heliópolis
TV Globo