Relatório do Cenipa aponta 'pane seca' e falha de planejamento em queda de avião que matou piloto e deixou dois desaparecidos no litoral de SP
30/12/2025
(Foto: Reprodução) Poltrona que seria de avião bimotor que caiu no mar na região de Ubatuba
Divulgação
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou, nesta terça-feira (30), o relatório final sobre a queda do avião bimotor de prefixo PP-WRS, ocorrida em novembro de 2021, em Ubatuba (SP).
O documento aponta que uma pane seca (esgotamento de combustível), causada por falhas no planejamento e na operação da aeronave, é a principal hipótese para o acidente que resultou na morte do piloto e no desaparecimento de outras duas pessoas.
A aeronave, modelo Piper PA-34-220T (Sêneca III), decolou de Campinas (SP) às 23h22 (UTC) com destino ao Aeroporto de Jacarepaguá (RJ), no dia 24 de novembro de 2021. No entanto, o bimotor caiu em mar aberto nas proximidades de Ubatuba e Paraty após o piloto relatar a falha de ambos os motores.
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O relatório técnico detalha uma série de fatores que contribuíram para a queda, como o uso inadequado da mistura de combustível. Relatos indicaram que o piloto mantinha o manete de mistura na posição "rica" em todas as fases do voo.
Vídeo de arquivo - Marinha encontra parte da asa que seria do bimotor que caiu em Ubatuba
O Cenipa calculou ainda que, com a mistura rica, a autonomia do avião cairia para cerca de 2 horas e 35 minutos, tempo quase idêntico ao total voado naquela noite (somando as duas etapas da viagem), o que teria levado à pane seca.
O documento cita ainda que o piloto declarou uma autonomia de 3 horas e 30 minutos, mas não realizou reabastecimento em Campinas, apesar de o serviço ter sido oferecido. O planejamento não teria considerado a reserva mínima de 45 minutos exigida por regulamento.
Embora possuísse as licenças necessárias, o piloto não tinha experiência recente em voos noturnos (mínimo de 3 decolagens e pousos nos últimos 90 dias) e possuía poucas horas de voo no modelo Sêneca. Além disso, nunca havia realizado a rota de Campinas para o Rio de Janeiro.
A investigação encontrou na asa resgatada uma mangueira e uma braçadeira de uso comum (não aeronáutico) instaladas no sistema de ventilação do tanque de combustível.
Após o apagamento dos motores, a aeronave perdeu o sistema de vácuo, o que inutilizou instrumentos essenciais como o horizonte artificial. O relatório sugere que o piloto enfrentou desorientação espacial na escuridão, colidindo contra o mar em alta velocidade e atitude anormal.
Destroços do avião que caiu no mar em Ubatuba, em novembro de 2021
Reprodução
O acidente
O avião desapareceu na noite do dia 24 de novembro. O voo saiu às 20h30 do Aeroporto dos Amarais, em Campinas, e pousaria no Aeroporto de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, mas deixou de fazer contato por volta das 21h40.
De acordo com o relatório da Marinha, o piloto avisou de uma falha no motor e que teria que fazer um pouso forçado no mar, mas desapareceram.
O corpo de Gustavo Carneiro, que pilotava o bimotor, foi encontrado no dia seguinte no mar. O copiloto José Porfírio de Brito Junior e o empresário Sérgio Alves Dia Filho, no entanto, não foram encontrados, assim como a fuselagem do avião.
As buscas foram cercadas por campanhas de amigos e celebridades cobrando empenho da Marinha e a Força Aérea Brasileira no caso. Pedro Scooby, Tatá Werneck, Felipe Titto, Rubens Barrichello e a atriz Fabiula Nascimento fizeram publicações em suas redes.
Imagem de arquivo - Buscas por desaparecidos em queda de bimotor entre Ubatuba.
Reprodução
As equipes da Força Aérea estiveram na região até o dia 6 de dezembro de 2021, quando anunciaram o fim da operação. O Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro seguiu as buscas até meados de dezembro, mas também sem localizar a fuselagem e os ocupantes.
À época, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou que as buscas pelos dois desaparecidos no acidente seguiram os padrões internacionais e que encerrou as buscas após a área do acidente ser completamente verificada.
“As operações de busca e salvamento coordenadas pela FAB seguiram padrões estabelecidos em normas internacionais, que envolveram desde a notificação do desaparecimento, o levantamento de dados sobre a aeronave e a apuração sobre a possível trajetória, no intuito de estabelecer as fases da operação e de coordenar ações em conjunto com as autoridades envolvidas”, disse na FAB em nota.
Sobre a retomada das buscas, a Força Aérea informou que podem ser retomadas, mas desde que com novas informações sobre a localização do piloto e do passageiro, o que não houve até o momento.
José Porfírio de Brito Júnior estava como copiloto do avião que caiu no mar. Ele não foi encontrado.
Arquivo pessoal da família
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