Fuvest 2026: professores de cursinhos apontam erro em questão de matemática
24/11/2025
(Foto: Reprodução) Chegada dos candidatos para a 1ª fase da Fuvest na faculdade Unip, na Chácara Santo Antônio, na Zona Sul de SP
LEANDRO CHEMALLE/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO
Professores de cursinho apontaram um erro em uma questão de matemática da prova da Fuvest deste domingo (23).
De acordo com o professor Giuseppe Nobilioni, coordenador de matemática do Objetivo, "a questão número 3, da versão V1 da prova de hoje, da primeira fase da Fuvest, é uma questão em que o examinador apresenta um texto e faz cinco afirmações a respeito daquele texto, e nenhuma das cinco alternativas é garantidamente correta. Em cada uma delas pode ser que sim, pode ser que não. Não se pode garantir nenhuma das cinco como correta".
Assim, para o Objetivo, não há resposta para a questão entre as alternativas apresentadas.
Victor Pompeo, professor de matemática do Curso Anglo, concorda com o colega. "A questão 3 da prova V1 da Fuvest 2026 aborda uma eleição para um conselho composto por cinco membros, com sete candidatos inscritos e um total de 35 eleitores. O enunciado fala de um candidato, Aleph, que perde em todos os critérios de desempate e está analisando quantos votos precisa para garantir sua eleição. Note o uso da palavra 'garantir' pelo enunciado: pede-se que ele tenha certeza de que ele será eleito", explica.
"O estudante deve, então, analisar diferentes cenários eleitorais para decidir qual está correto. No entanto, considerando o pedido do enunciado para garantir a eleição de Aleph, nenhum dos cenários faz uma análise correta", afirma o professor.
"A alternativa C, apontada pela banca da Fuvest como a resposta correta, diz que, caso dois eleitores não compareçam, Aleph precisará receber cinco votos para se eleger. Isso não é verdade, pois é possível ele se eleger com um voto se os outros receberem as seguintes quantidades de votos: 8, 8, 8, 8, 0 e 0. Todas as outras alternativas apresentam problemas similares", reforça.
Procurada, a Fuvest informou que somente dará um posicionamento a respeito caso algum candidato entre com um recurso, que será, então, analisado pela banca.
Comentários sobre a prova
A prova foi considerada trabalhosa e inteligente por professores de cursinhos pré-vestibulares ouvidos pelo g1. Eles também destacaram a interdisciplinaridade das questões.
Estão em disputa 8.147 vagas, e 111.480 pessoas se inscreveram para o vestibular. A taxa de abstenção foi de 9,17%.
Neste ano, segundo a Fuvest, a prova apresentou um conteúdo mais voltado a questões ambientais, sociais e econômicas contemporâneas, abordando assuntos que ficaram em evidência nas redes sociais, como a demonização da CLT, a uberização do trabalho e a politização do carnaval, uma questão sobre Caetano Veloso e temas geopolíticos importantes, como a tentativa de anexação de Essequibo, na Guiana, por parte do governo venezuelano.
"Foi uma prova impecável, uma prova inteligente e trabalhosa. Utilizou, como já havia sido anunciado pela própria Fuvest, muitas questões interdisciplinares, usando como ponte a geografia, a sociologia, a filosofia e a própria literatura", afirmou a professora Vera Lúcia Antunes, coordenadora pedagógica do Objetivo.
O diretor das unidades do Poliedro Curso, Luiz Otávio Ciurcio Neto, ressaltou a contextualização como ponto alto da prova deste ano. "A prova veio muito bem contextualizada, mais do que nas edições anteriores. Mesmo nas questões mais técnicas e diretas, havia uma preocupação clara em apresentar situações reais e aplicações práticas dos conceitos. Isso fez com que o exame valorizasse o domínio teórico e a capacidade do estudante de relacionar conteúdos e perceber conexões entre diferentes áreas", disse.
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E emendou: "A interdisciplinaridade apareceu com bastante força. Raramente era possível resolver uma questão usando apenas um conteúdo isolado, uma vez que, em quase toda a prova, era necessário articular temas distintos para chegar à resposta. Esse modelo favorece o aluno que consegue integrar conhecimentos e relacionar conteúdos".
"A prova manteve seu nível tradicional de exigência, mas agora está ainda mais alinhada às discussões contemporâneas, além de dialogar melhor com a BNCC. Por fim, a adoção da nova identidade visual, com readequação de tipografia, logo e diagramação, tornou a leitura da prova mais fluida e agradável", finalizou.
Na avaliação do diretor-executivo da Fuvest, Gustavo Monaco, a prova foi mais trabalhosa do que nos anos anteriores e refletiu as mudanças no Programa do Vestibular aprovadas no ano passado, com mais interdisciplinaridade.
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Segundo a organização do vestibular, da lista de leituras obrigatórias, apenas "Nebulosas", de Narcisa Amália, não foi utilizado nas perguntas desta fase, com todas as outras oito obras selecionadas sendo citadas em pelo menos uma questão.
Para Viktor Lemos, diretor-geral do Curso Anglo, a prova "foi bastante exigente em termos das abordagens propostas para os candidatos. E, no mesmo sentido que a banca vinha informando, pela maior interdisciplinaridade entre as diferentes disciplinas".
"Nas questões que envolvem interpretação de texto, apenas quatro delas trouxeram temas alheios a outras disciplinas. Todo o restante dos textos ou das questões de interpretação de texto foram em conversa, em diálogo, com disciplinas como biologia, com disciplinas como inglês, com disciplinas como história, filosofia e sociologia", disse.
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Veja abaixo a análise dos professores por disciplina:
Biologia
Para Vera Lúcia, "a prova de biologia foi uma prova com várias questões interdisciplinares com o inglês. E, bem interessante, uma questão do lobo extinto, de recente divulgação, e, de repente, aparece a questão muito bonita da biotecnologia. Então, uma questão muito nova, moderna, atualíssima, questão de imunização, mas também teve questão de botânica e de ecologia, que são mais clássicas na biologia".
Inglês
A professora Vera, do Objetivo, avaliou a prova de inglês como "trabalhosa". "O aluno tem que ter domínio do vocabulário, não adiantava saber a disciplina, tinha que ter domínio do vocabulário. Então, nível médio para alto. E o trabalho dos textos longos. Então, tem que tomar cuidado com isso."
Física
A professora Vera considerou a avaliação de física como bastante trabalhosa. "No aspecto de que eram textos longos. O aluno mais de Exatas vê uma prova como cansativa, ler esses textos tão longos. Mas exigiu um conhecimento profundo da matéria. Questões que exigiram um conhecimento mais profundo na física, mas foi uma prova moderna, bem contextualizada. Observe essa questão onde tem o desenho do ovo, o cozimento do ovo, bem contextualizada essa questão. Outra, do buraco negro, do efeito fotovoltaico, Mas, por exemplo, não houve nenhuma questão de elétrica. Então, a física teve uma variedade grande, de profundidade de matéria até o conhecimento básico."
Geografia
Altieris Lima, professor de geografia da Escola SEB AZ Lafaiete destacou que o tema das mudanças climáticas foi abordado, apesar de não ter havido nenhuma questão específica sobre a COP 30.
"A prova veio bastante interdisciplinar, como já esperávamos após o simulado. Apesar de não ter caído uma questão específica sobre a COP 30, o tema das mudanças climáticas apareceu em duas ótimas questões: uma sobre o sistema de crédito de carbono criado no Protocolo de Kyoto e outra sobre o monitoramento de movimentos de massa causados por eventos climáticos extremos, com foco nas cidades brasileiras e seus desafios de urbanização desordenada. No geral, foi uma prova alinhada com pautas de resiliência e adaptação às mudanças climáticas."
Português
Willy Rocha, professor de Língua Portuguesa da Escola SEB AZ Lafaiete, destacou a "interdisciplinaridade" e afirmou que a prova foi muito diferente neste ano. "O que chamou a atenção foi a interdisciplinaridade da prova, uma prova muito diferente, muito especial. Foram 24 questões de língua portuguesa extremamente interdisciplinares. A prova trouxe uma questão sobre Caetano Veloso, que explicava porque Caetano Veloso tinha escolhido o nome da irmã dele de Maria Betânia. Destaco também uma questão que falava das obras ‘Caminho das Pedras’ e ‘As Meninas’, falando das políticas e leis para as mulheres desde a lei geral de 1827, o acesso à educação em 1934, o estatuto da mulher casada em 1962 e a lei do divórcio em 1977.”
História
A professora Vera ressaltou que, na parte de história, "temos o protagonismo indígena". "Aparece desde o Marco Temporal até a catequese estratégica que houve dos indígenas, até história da arte, crítica de obra de arte. Então, por exemplo, esta obra que está no Masp, de capoeira, a visibilidade e a crítica da cultura negra. É uma tela muito importante. Uma prova realmente muito bem elaborada."
Química
Já a parte de química foi uma prova com "cálculos simples, de nível médio mesmo", classificou a professora Vera. "O aluno conseguia responder com conhecimento básico. Outras questões de química propuseram soluções de situações-problema."
📌 Calendário da Fuvest 2026
2ª fase: 14 e 15/12/2025
Específicas — Música: 9 a 12/12/2025
Específicas — Artes Visuais: 11/12/2025
Específicas — Artes Cênicas: 5 a 9/01/2026
1ª chamada: 23/01/2026
Candidatos da 1ª fase da Fuvest na faculdade Unip, na Chácara Santo Antônio, na Zona Sul de SP
LEANDRO CHEMALLE/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO