Ex-funcionária que escondeu bilhete em mamadeira para alertar mãe sobre maus-tratos em creche diz que presenciou gritos e xingamentos
15/12/2025
(Foto: Reprodução) Polícia instaura inquérito para investigar maus-tratos em creche particular de Rio Preto
A ex-funcionária que escondeu um bilhete em uma mamadeira para alertar a mãe de que o filho dela, de dois anos, com autismo nível 2, estaria sofrendo maus-tratos em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, revelou que presenciou gritos e xingamentos contra as crianças em apenas duas semanas de trabalho na creche particular.
Em uma nova nota, publicada no domingo (14), a direção da creche informou que as imagens foram registradas e divulgadas fora do contexto, de forma distorcida pelos ex-funcionários da instituição, e que nenhuma criança foi vítima de violência. Veja a nota completa abaixo.
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O g1 conversou com a mulher, que pediu para não ser identificada pela reportagem. Ela revelou que enviou o bilhete na sexta-feira (12), dia em que rompeu o contrato de trabalho e se demitiu, para que os pais tivessem ciência sobre os cuidados com as crianças.
Ela relatou que presenciou o tratamento com as crianças e bebês, que eram submetidas a punições e restrições.
“Presenciei gritos, xingamentos contra crianças como ‘marginal’. O dono da creche chutou a perna do menino e o chinelo parou longe. Davam sacudidas em crianças de dois anos. Não tinham cuidados, as baratas eram normais. Não suportei ficar lá”, relatou a ex-funcionária.
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Para chamar a atenção da mãe, a ex-funcionária escreveu no bilhete: “Me chama, preciso falar com você urgente sobre os cuidados do seu filho”. O conteúdo foi enviado ao g1 neste domingo. Veja abaixo.
Funcionária esconde bilhete dentro de mamadeira para alertar mãe sobre maus-tratos em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
Ela também afirmou que registrou imagens após a orientação do advogado para formalizar a denúncia. Em uma delas, é possível ver a insalubridade no local, bem como o menino com autismo sozinho, em uma sala vazia, sentado em uma cadeira de refeição, impossibilitado de sair.
A criança, de acordo com a ex-funcionária, era mantida isolada, sem refrigeração adequada e sob calor intenso. No vídeo, o menor estava suado e com fezes. Assista acima.
“A dona ia dar banho nas crianças e não dava banho nele. Eu deixei ele solto uma vez, fora da cadeirinha, e ela falou que não podia porque ele morde outras crianças, que ele não parava. Ela colocou ele de volta na cadeirinha”, relata a ex-funcionária.
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Mãe denuncia ambiente insalubre em creche em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
No local, a profissional ainda comentou que a alimentação das crianças era mal armazenada, denunciou condições insalubres de higiene, estrutura precária para atendimento, e afirmou que alguns bebês dormiam no chão ou em colchões velhos e sujos.
Apesar de tentar manter o local limpo e organizado, a mulher esclareceu que não podia se dedicar a isso, uma vez que precisava cuidar das crianças. A creche, que foi fundada há pouco mais de um mês, atendia, segundo ela, pelo menos 30 crianças. Quando foi contratada, a berçarista informou que trabalhava com outras duas profissionais.
“No meu segundo dia, lavei o banheiro, limpei ventiladores. Eu questionei sobre a limpeza, se teria uma faxineira. O dono disse que tinha planos para o ano que vem se entrasse mais verba”, comenta a mulher.
Pelo menos cinco mães procuraram a delegacia para denunciar os maus-tratos contra as crianças. À TV TEM, o delegado Amaury Scheffer de Oliveira Junior, do 4º Distrito Policial, confirmou que instaurou um inquérito policial.
Ex-funcionária denuncia insalubridade em creche particular em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
O que diz a prefeitura
Em nota, enviada à reportagem nesta segunda-feira, a Secretaria Municipal de Educação informou que o local citado não possui registro como escola de educação infantil e, portanto, não está sob a supervisão da pasta. Ao contrário, trata-se de uma empresa registrada como recreação e lazer, atividade que não se enquadra no sistema municipal de ensino.
Para obter autorização de funcionamento, uma escola de educação infantil particular deve apresentar requerimento formal à Secretaria Municipal de Educação, com documentação do mantenedor, proposta pedagógica e regimento escolar, comprovação da habilitação dos profissionais, adequação da estrutura física às normas educacionais, além das licenças e laudos obrigatórios de órgãos como a Vigilância Sanitária e o Corpo de Bombeiros.
O que diz a direção da creche
“A direção vem, por meio desta, prestar esclarecimentos à comunidade, aos pais e à sociedade em geral acerca de fatos recentemente divulgados nas redes sociais e em veículos de comunicação.
As imagens e vídeos que vêm sendo compartilhados foram registrados e divulgados fora de contexto, de forma parcial e distorcida, por ex-funcionárias que já haviam solicitado desligamento da instituição, circunstância que está sendo devidamente apurada pelas autoridades competentes.
O material divulgado não reflete a rotina, os valores, nem o padrão de cuidado adotado pela escola ao longo de sua trajetória. Trata-se de situações pontuais, momentâneas e já corrigidas, algumas delas decorrentes de falha funcional específica, e não de qualquer prática reiterada de negligência, abuso ou maus-tratos.
Esclarece-se, ainda, que nenhuma criança foi submetida a violência, maus-tratos ou situação degradante. Todas as condutas da direção sempre foram orientadas pelo bem-estar, segurança e proteção integral das crianças, nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Quanto a um vídeo específico que também passou a circular, trata-se de registro privado, feito em momento de extremo estresse e desespero, encaminhado exclusivamente em grupo restrito, com o único objetivo de pedido de socorro administrativo, jamais para divulgação pública. Sua publicação sem autorização configura violação de intimidade, já devidamente submetida à apreciação judicial.
A direção informa que todas as medidas legais cabíveis já estão sendo adotadas, tanto na esfera criminal quanto cível, para a apuração dos fatos, responsabilização dos envolvidos e reparação dos danos causados.
Reafirmamos nosso compromisso com a verdade, com a transparência e, sobretudo, com as famílias que sempre confiaram em nosso trabalho. Pedimos serenidade, responsabilidade e respeito ao devido processo legal.”
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