'Copia e Cola' escancara racha: investigados em operação que afastou prefeito Rodrigo Manga se atacam com apelidos de '171' e 'demônio'
17/12/2025
(Foto: Reprodução) Prefeito afastado de Sorocaba (SP) é chamado de '171' em conversa com ex-secretário
Reprodução/WhatsApp
Documentos da Polícia Federal escancaram um racha entre os investigados pela "Copia e Cola", operação que investiga desvio de verba da Saúde e que afastou o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) do poder de Sorocaba (SP), além de pedir a prisão de pessoas ligadas ao político.
Mensagens mostram que os investigados usavam apelidos como "demônio" e "171" para se referirem uns aos outros. A investigação também revelou que Simone Rodrigues Frate de Souza, cunhada do prefeito afastado e alvo de um dos mandados de prisão, protagonizou uma tentativa de fuga monitorada em tempo real pela Polícia Federal, no dia 6 de novembro (veja abaixo).
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Entenda a Operação Copia e Cola, da Polícia Federal, que investiga Rodrigo Manga
A investigação da PF revelou mensagens que mostram um ambiente de intensa desconfiança e conflito entre os principais investigados. As comunicações, extraídas de celulares, mostram que ex-aliados teciam críticas pesadas a Manga e ao bispo Josivaldo Batista, casado com Simone, cunhada do prefeito afastado. Josivaldo chegou a ser preso na operação, mas conseguiu a liberdade por meio de Habeas Corpus (HC).
As mensagens detalham conversas entre o ex-secretário de Administração, Fausto Bossolo, e sua esposa, Dayani Ferreira Silva Bossolo. Em um dos trechos, a esposa de Bossolo usa o termo "171" para se referir ao prefeito afastado, Rodrigo Manga, uma referência ao artigo do Código Penal para o crime de estelionato. As mensagens são de outubro de 2022.
Conversa entre Fausto Bossolo e sua esposa (Day Amor), em 05/10/2022:
Fausto Bossolo: Chuta quem acabou de me ligar aqui, mas não atendi, estou até tremendo.
Day Amor: Manga.
Fausto Bossolo: Sim.
Day Amor: Putz. O que será hein.
Fausto Bossolo: Não faço a menor ideia. Mas não estou a fim de saber não. Me faz muito mal.
Day Amor: Isto mesmo. Não [retorne]. Pois ele é muito 171. Olha o que ele fez com você.
O documento aponta também que Bossolo e Josivaldo Batista, suposto operador financeiro do grupo, viviam uma relação de forte aversão. Em outra conversa interceptada, Fausto Bossolo se referiu a Josivaldo com a palavra "demônio".
Conversa entre Fausto Bossolo e sua esposa (Day Amor), em 17/03/2025:
Fausto Bossolo: É amor vai orando aí que esse demônio do Josivaldo está aprontando, tem que orar para dar jeito nesse demônio.
Day Amor: Eita, Deus irá tomar a direção, Efatá ("Abre-te" em aramaico).
Fausto Bossolo: Eu creio amor mas sabe é difícil.
Fausto Bossolo: Sem paciência mesmo.
Fausto Bossolo: Estou pedindo direção mas acho que está chegando o momento de ir atrás desse artista.
Conversa mostra investigado pela Polícia Federal de Sorocaba (SP) chamando bispo evangélico e também investigado de 'demónio'
Reprodução/WhatsApp
Fuga monitorada
Segundo o relatório de inteligência da PF, Simone Frate, pastora e casada com o bispo Josivaldo Batista, também alvo da operação, não foi encontrada em sua residência quando os agentes chegaram para cumprir os mandados de prisão, dando início a uma busca pelas ruas de São Paulo.
A pastora deixou seu apartamento em Santo Amaro nas primeiras horas da manhã de 6 de novembro. Os agentes identificaram que ela utilizava uma linha telefônica cadastrada em nome de outra pessoa, em uma provável tentativa de dificultar o rastreamento.
O monitoramento indicou que Simone estava na academia do casal, no bairro do Brás, às 6h45. Ao ser avisada por familiares sobre a presença da polícia em sua casa, onde seu marido já estava detido, ela iniciou o retorno.
O trajeto, no entanto, foi interrompido na zona sul da capital. Dados de geolocalização mostram que, às 7h59, ela parou o carro no bairro Brooklin Velho e permaneceu na região por cerca de 30 minutos.
Equipes da PF foram deslocadas para o local, mas não a encontraram. A partir das 8h38, o sinal do celular indicou uma mudança de planos: Simone desistiu de voltar para casa e se deslocou em direção à região central de São Paulo, consolidando sua fuga.
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Enquanto esteve foragida, Simone utilizou as redes sociais para comentar o caso. A defesa do casal entrou com um pedido de Habeas Corpus, que foi concedido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), substituindo a prisão por medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica.
Luxo apreendido
Dezenas de relógios e itens de luxo foram apreendidos durante operação da Polícia Federal, em Itu (SP)
Reprodução
Ainda em 6 de novembro, durante a operação, chamou a atenção dos agentes a quantidade de artigos de luxo em posse de Josivaldo Batista e Simone Frate, em um condomínio em Itu (SP).
Foram catalogados 46 relógios de pulso, incluindo um modelo da marca Rolex, além de peças de grifes como Montblanc, Louis Vuitton e Michael Kors.
A lista de apreensões inclui ainda 15 óculos de sol e 50 itens de joias e semijoias. No closet do casal, as equipes encontraram diversas malas da marca Louis Vuitton com documentos, passaportes e dinheiro em moeda estrangeira.
O que dizem os citados
A defesa de Simone Frate e do bispo Josivaldo Batista disse que o casal prefere não se manifestar sobre as questões abordadas pela reportagem.
A assessoria de Rodrigo Manga, mencionado como "171", não respondeu aos pedidos de posicionamento.
Fausto Bossolo e Dayani Bossolo não foram encontrados para comentar os diálogos.
Entenda a operação
Linha do tempo da Operação 'Copia e Cola', da Polícia Federal, que investiga irregularidades na Saúde de Sorocaba (SP)
Arte g1
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