Comunidade terapêutica suspeita de manter pacientes em condições análogas à escravidão é interditada no interior de SP
18/12/2025
(Foto: Reprodução) Comunidade terapêutica é interditada em Araçoiaba da Serra
A comunidade terapêutica localizada em Araçoiaba da Serra (SP), que é investigada pela Polícia Civil por suspeita de manter pacientes em condições análogas à escravidão, foi interditada pela Secretaria de Saúde e pela Vigilância Sanitária nesta quinta-feira (18). Uma pessoa foi presa.
A ação contou com a participação da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Guarda Municipal e do Canil da GCM de Sorocaba (SP). Segundo a PM, as equipes realizaram buscas, vistorias e levantamentos no local. No entanto, não foi constatado a suspeita do crime de analogia à escravidão. A interdição ocorreu por problemas de documentação e na infraestrutura do local.
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Durante a operação, cães farejadores localizaram dois notebooks escondidos em uma área de mata nas proximidades da clínica. Ainda durante a vistoria, a polícia identificou que um dos pacientes possuía mandado de prisão em aberto. O homem foi preso, e os aparelhos foram apreendidos.
Comunidade terapêutica é interditada em Araçoiaba da Serra (SP)
Canil GCM Sorocaba
Diante das irregularidades encontradas, a Vigilância Sanitária determinou a interdição total da clínica e estabeleceu o prazo de dez dias para que os pacientes, 70 homens no total, retornem às suas cidades de origem e às famílias.
Aqueles que não tiverem local para retorno serão encaminhados para outra clínica de reabilitação. O caso é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério do Trabalho.
A Prefeitura de Araçoiaba disse que foram localizados 86 internos na instituição e confirmou a intenção.
"Após a vistoria técnica, o estabelecimento foi totalmente interditado em razão da constatação de diversas irregularidades, dentre as quais se destacam: inadequações na estrutura física e nas edificações, especialmente nos alojamentos; oferta de alimentação inadequada e insuficiente; armazenamento e utilização de medicamentos controlados sem a devida prescrição médica, além de outras irregularidades sanitárias e administrativas.'
Ainda conforme a prefeitura, foi constatado que a comunidade terapêutica estava com licença de funcionamento e alvará vencidos.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) confirmou a interdição.
O que diz a entidade
A defesa da entidade ressaltou que a interdição foi administrativa, sem relação com trabalho análogo à escravidão. Entretanto, a administração da Comunidade Cristã Terras de Sião divulgou material onde nega a interdição.
A entidade afirmou que "após fiscalização realizada pelos órgãos competentes, a Instituição não foi interditada, tendo sido apenas autuada, com apontamentos referentes a conformidades e irregularidades administrativas e estruturais".
Alegou ainda que a "administração da comunidade está tomando todas as medidas cabíveis para a devida regularização, tratando com seriedade e responsabilidade cada item pontuado no relatório da fiscalização, em conformidade com a legislação vigente".
Início da investigação
Nesta segunda-feira (15), a Polícia Civil começou a investigar se os pacientes viviam em condições análogas à escravidão após serem abordados enquanto vendiam sacos de lixo para custear tratamentos na Praça da Matriz, em Taquarituba (SP).
Conforme a Secretaria de Segurança Pública (SSP), ao todo, oito vítimas foram localizadas. Os guardas municipais encontraram os pacientes vendendo sacos plásticos de lixo e, ao serem questionados, eles relataram que as vendas serviam para custear os próprios tratamentos.
Segundo os relatos aos agentes, a instituição não fornecia alimentação adequada aos pacientes e oferecia “rapé” (tabaco em pó) em substituição a medicamentos. O produto era concedido como “prêmio” mediante o cumprimento de metas de venda dos sacos plásticos.
A SSP concluiu que as vítimas foram encaminhadas à Delegacia da Polícia Civil, onde prestaram depoimento. A ação ainda resultou na apreensão de dois celulares - um do motorista da van e um do coordenador da equipe, uma porção de rapé 15.8 gramas, os sacos de lixo e a van utilizada para transportar os pacientes até outras cidades.
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Canil GCM Sorocaba
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