Carta com sangue, ameaças e facadas: sobrevivente após ataque de casal fala sobre intolerância religiosa
20/11/2025
(Foto: Reprodução) Vítima de intolerância religiosa em Mogi Mirim (SP) fala pela primeira vez após alta hospitalar
Reprodução/EPTV
A jovem Miryan de Oliveira Silva falou pela primeira vez após a tentativa de homicídio motivada por intolerância religiosa - o casal de vizinhos foi preso em flagrante.
Sobrevivente do ataque que deixou sete golpes de faca pelo corpo, inclusive com perda de parte de um dedo, a vítima, que recebeu alta nesta quarta (19), relatou que as ameaças tiveram início quando ela se mudou para Mogi Mirim (SP), em junho de 2025.
"Eu recebi a primeira cartinha, com sangue. Estava escrito que: 'Se você pensa que veio para esse bairro para fazer macumba, você está enganada. Vamos ter matar'. Eu fui levando, fui deixando de lado, e foi ficando frequente. Carta, carta, carta... E eu: 'gente, o que está acontecendo?'", lembra.
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Umbandista, Miryan relatou que os episódios foram se agravando, como quando a casa amanheceu com pichações, além de momentos em que atiraram fezes e pedras contra sua residência.
"Foi onde eu tive que procurar, ver quem era, ver gravações, fiz boletim, foi quando descobri quem estava fazendo. E não parou. Foi quando jogaram fezes, pedrada.. Nossa, muita coisa", conta.
Casal foi preso em Mogi Mirim (SP) por tentativa de homicídio contra a vizinha; vítima alega que sofre intolerância religiosa
Arquivo pessoal
A escalada da intolerância quase acabou em tragédia, quando o casal vizinho invadiu a casa para tentar matá-la no dia 13 de novembro.
Em declaração colhida por investigadores na Santa Casa de Mogi Mirim, onde Miryan foi internada, a jovem contou que ouviu barulhos nos fundos do imóvel, e quando abriu a porta se deparou com a dupla no local, sendo atacada a golpes de um objeto que parecia uma adaga.
"Eles vieram para cima de mim, me agrediram com barra de ferro, ela veio pela frente me esfaqueando, ele me segurando. Eu consegui descer a balaclava dele, eu vi que era ele. Foi quando ela se desesperou, falou para me segurar, me xingou, e falou que iria me matar", lembra.
Miryan destaca que foi nesse momento em que perdeu parte do dedo da mão esquerda.
"Foi quando me defendi da facada no peito. Consegui defender com o dedo, consegui jogar a faca longe. Foi quando comecei a gritar ajuda, gritar muito. E ouvi eles aqui dentro, quebrando tudo".
Segundo a Polícia Civil, Marcelo Aparecido Ramalho, de 54 anos, confessou que ele e a esposa esfaquearam a vizinha. A mulher, Leide Cristiane da Silva Borges, de 39 anos, confirmou que pichou o muro. O g1 tenta contato com a defesa do casal.
Casal que esfaqueou vizinha foi preso em flagrante, em Mogi Mirim (SP).
Arquivo Pessoal
'Só queremos justiça'
A família segue a umbanda e afirma que Miryan era alvo constante de perseguição.
“Alguns vizinhos falaram para a gente que eles tinham jogado papel em outras casas, falando que tinha uma macumbeira morando em tal rua”, relatou a tia.
Chayene conta que a sobrinha "é uma menina trabalhadeira" e que buscava evitar problemas com outras pessoas. "É só para cada um viver o seu e deixar a gente viver o que a gente gosta. Cada um tem que procurar Deus da forma que acha melhor", diz.
"A única coisa que eu quero é a justiça, porque não é a escolha da nossa religião, que define o nosso caráter", afirma.
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